quinta-feira, 3 de outubro de 2013

UMA EQUAÇÃO PARA FELICIDADE

Você pode estar feliz por cuidar do seu jardim, brincar com o seu cachorro, se divertir com uma comédia romântica, ou simplesmente, navegar em seu notebook enquanto ouve o playlist preferido. Todos estes momentos de prazer e lazer podem ser somados com uma boa qualidade de vida urbana, incluindo inúmeros espaços com áreas verdes, um eficiente transporte público, bom grau educacional e um atendimento à Saúde com alto grau de excelência. Todos estes itens coletivos são mensurados pelo índice da FIB (Felicidade Interna Bruta), cujo fator troca a aritmética do PIB (Produto Interno Bruto) ou do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), por conceitos de bem estar. O PIB, por exemplo, não contabiliza os recursos naturais, sendo que a exportação de petróleo ou a queimada de um canavial reduz os estoques de riquezas de um País.


Sendo bem mais completo que o IDH, a FIB considera diversas características, como a preservação do meio ambiente, onde a existência de uma floresta vale muito mais do que árvores derrubadas para a transformação em lápis ou mobília. Enquanto o PIB capta a produção de móveis, a FIB avalia os benefícios climáticos que uma área verde proporciona para o aumento da qualidade de vida. Os nove indicadores são compostos pelos quesitos: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bom estado psicológico. Cada um dos quesitos é desmembrado em outros temas mais específicos, num total de 73 variáveis, onde o nível apresenta um número final entre 0 e 1, semelhante ao IDH. 

PIB X FIB

A pesquisa da FIB possui mecanismos interessantes que procuram avaliar uma condição de ser humano que não se mede, apenas, pelo aspecto externo ou por quantos bens que uma pessoa agrega em seu patrimônio. O índice afere o estado interno de cada indivíduo, sendo que a felicidade é aquilo que o sujeito sente em relação a sua vida como um todo. As estatísticas internacionais comprovam que o sentimento positivo dos habitantes aumenta proporcionalmente ao padrão econômico que atingem até um determinado ponto. Depois disso, o grau de felicidade começa a declinar, onde é importantíssimo o processo de reconsideração ao conceito de progresso ligado exclusivamente às riquezas materiais acumuladas pelos países.

Especialistas analisam dentro do espectro da gestão do próprio tempo, que seis horas de trabalho por dia seriam suficientes para produzirmos o necessário, e ainda, tornaria possível que cada ser humano dormisse as horas de sono de que precisa, socializasse, pudesse se dedicar um pouco ao autoconhecimento e praticasse atividades físicas diariamente. Uma rede social bem planejada compensa perfeitamente a infelicidade que tem origem na perda do emprego.  Quanto mais condições o cidadão tem do ponto de vista do relacionamento e como ele próprio (constituído a partir de família e das relações sociais), ele não é tão afetado em comparação a uma pessoa que não se encontra num bom estágio de felicidade.


O PIB não mede o tempo livre e nem tampouco o trabalho voluntário, não remunerado, revelando um sério preconceito contra a solidariedade e o lazer. Todavia, estes movimentos contribuem para a felicidade e o bem-estar. Cuidar de crianças e idosos, bem como o trabalho doméstico, são serviços não remunerados que se dão à margem das transações de mercado. Essas atividades não estão precificadas, e são executadas por aqueles cuja motivação está acima do ganho financeiro. O PIB, por si só, despreza diversos padrões de ética ou espiritualidade, não importando se a riqueza.


DINHEIRO TRAZ FELICIDADE?

A felicidade é um estágio almejado por todos os seres humanos, onde a ideia de um alto padrão de renda financeiro seja o ápice. Contudo, em economias desenvolvidas, como o Japão, Estados Unidos e diversos países europeus, foi detectado que o principal objetivo dos indivíduos não são os bens materiais. Ao atingir uma satisfatória posição social, as pessoas buscam outros valores incluindo família, segurança, redes sociais, liberdade, criatividade, significado para a vida, e assim, por diante. Esses benefícios das sociedades pós-industriais, não necessariamente, aumentam com a renda.

A principal função de um governo é criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem sucedidos. Uma política pública eficiente, que consegue apresentar um alto nível educacional, uma boa rede de atendimento à saúde e um efetivo modelo de segurança, contribui para que o cidadão obtenha uma excelente qualidade de vida, podendo se dedicar com mais prazer em sua carreira profissional, atividades físicas e reflexão espiritual.  


Na visão de algumas ciências comportamentais, nossa mente é concebida como um aparato de entrada e saída, que responde, apenas, aos estímulos externos. Neste contexto, muitos indivíduos acreditam que a felicidade está baseada no acúmulo de bens materiais e altas somas em dinheiro. Umas das formas de se driblar esta estrutura mental é a meditação. Praticada de forma disciplinada e regular, estados de calma e de contentamento são acoplados em nossa personalidade. 


SEMENTE ASIÁTICA

A FIB foi desenvolvida no ano de 1972 pelo governo do Butão, pequeno país asiático localizado entre a China e a Índia. Após passar por sucessivas crises econômicas, o rei Jigme Singye Wangchuck decidiu trocar o conceito do mundo capitalista de amplo desenvolvimento econômico para outro mais voltado para a promoção do bem estar social, baseado sob a égide da felicidade. A partir deste novo pensamento foi apresentada uma nova maneira de ver o planeta, não apenas, do ponto de vista de conforto material, mas agregando o contexto espiritual e psíquico do ser humano. Neste espectro foram englobadas dimensões sociais, ambientais, educativas e culturais, cujo denominador comum é o viver bem.

Atualmente, o Butão apresenta mais de 70% do seu território com cobertura vegetal original, com expressivos investimentos na área de turismo ecológico. Em 1982, a expectativa de vida era de 43 anos atingindo o patamar de 65, atualmente. A mortalidade infantil caiu de 163 por mil nascidos vivos para 52 por mil. A sociedade do PIB valoriza os prazeres sensoriais, dependentes de estímulos externos vinculados ao aumento de bens materiais, enquanto que a sociedade da FIB busca o prazer interior, incluindo todas as dimensões objetivas e subjetivas.

DEGRAUS PARA FELICIDADE

PSICOLÓGICO: O domínio do bem estar psicológico é de primordial importância para medir o sucesso do estado em prover as políticas e os serviços apropriados.

USO DO TEMPO: Uma importante função do uso do tempo é reconhecer o valor do lazer. Os laços sociais criados e compartilhados na socialização com a família e com os amigos contribuem significativamente para todos os níveis de felicidade e contentamento numa sociedade.

SAÚDE: Os fatores de saúde incluem padrões de comportamento arriscados, exposição a condições de risco, status nutricional, práticas de amamentação e condições de higiene.

EDUCAÇÃO: A educação contribui para o conhecimento, valores, criatividade, competências, capital humano e sensibilidade cívica dos cidadãos.

DIVERSIDADE CULTURAL: A cultura é primordial para a formação de uma identidade coletiva, cujos valores desenvolvem a capacidade criativa e são excelentes para o estímulo de uma ampla convivência social.

BOA GOVERNANÇA: Os temas desses indicadores incluem liderança em vários níveis do governo, na mídia, no judiciário, na polícia e nas eleições.

VITALIDADE COMUNITÁRIA: Um bairro seguro, ecologicamente agradável e bem equipado com instalações esportivas, contribui com uma satisfatória sensação de felicidade.

RESILIÊNCIA ECOLÓGICA: Lutar pela sobrevivência da natureza é uma maneira de defender nossa vida, deixar o planeta mais agradável e oferecer uma melhor qualidade de vida para as futuras gerações.

PADRÃO DE VIDA: Apenas, o status econômico não é necessário, medindo também, o nível de dívidas, qualidade das habitações e a assistência recebida por familiares e amigos.

DESENVOLVIMENTO HOLÍSTICO: O “eu” é substituído pelo “nós”, onde a integração social é fundamental para o planejamento de uma felicidade coletiva. 

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